terça-feira, 3 de julho de 2012

Crônica das 16 quadras

Era um dia ensolarado de primavera. A temperatura começa a atingir os 27, 28 graus. O calor já estava encolhendo as mangas. Caminhávamos eu e minha namorada. Ela carregava em suas costas uma mochila e eu um amplificador que ocupava meus dois braços. Sou baixista e havia deixado o amplificador para consertar há alguns dias. Depois de caminhar 15 quadras contadas carregando o aparelho de cerca de 4 quilos e de difícil manejo, minha namorada resolveu me ajudar carregando o amplificador na última quadra, pois meus braços já estavam mortos àquela altura. O sol rachava, o asfalto assava os pés. Mal ela começou a andar, passou um carro por nós com rapazes cabeludos e um deles gritou pela janela "Carrega pra ela, idiota". Eu e minha namorada nos olhamos e só pudemos rir daquela demonstração estúpida e cega. Naturalmente, para aqueles caras ela era a donzela indefesa, eu o malfeitor, e eles os paladinos da justiça machista, pois um homem não pode deixar uma mulher carregar peso e para eles parece ser inconcebível que uma mulher possa querer ajudar alguém carregando peso. O que fazer? O que dizer a um indivíduo desses que ainda jovem já mostra os traços profundos da sociedade machista em que vivemos?
Eu? Cheguei em casa e, mesmo com os braços cansados e dormentes, abracei longamente minha querida namorada em agradecimento pelo enorme apoio. Daí, pensei: o quanto de machismo está impregnado em mim agora?

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