quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Girassóis

Dois pequenos girassóis. Graças à cor que lhes embeleza e a forma que lhes dá semelhança ao astro rei, deixo-me deslumbrar em poemas e canções a sua homenagem; tendo nunca antes visto outra igual diante de meus olhos, vejo-me perante imagem viva outrora tão bem retratada. Ao seu redor cultivam-se, não menos belas, pequenas flores de pétalas brancas, qual margaridas miniaturizadas, oito ao todo, erguendo-se como se aos céus estivessem dirigindo um canto angelical. Uma pequena folhagem, em vários tons de verde, ao redor das flores não me permitia ver que aquele vaso era, na verdade, um túmulo.

Pobres seres moribundos. Ao encherem os meus olhos com a sua beleza singela, não percebo que as vidas daqueles corpos se exauriram, talvez antes mesmo de florescerem, certamente muito antes de aqui chegarem.

Subiam pelos corpos dos dois girassóis arames coloridos de verde, de fina espessura – que antes me iludiam ao lembrarem os ramos da hera em sua bela caminhada às alturas –, estrangulando o corpo das flores até o seu bulbo. Naquele momento, projetei a imagem de um ser humano e senti a ponta de um daqueles arames em fria incisão em minha nuca, o que me causou calafrios. Vi-me, então, envolto num sentimento de revolta e pesar depois de imaginar cena tão brutal.

Numa tentativa desesperada de socorrer aquelas belas figuras, busquei libertá-las todas daquele vaso, tentando aproveitar ao menos uma porção de terra, imaginando que ali houvesse alguma. Tendo sido cegado pela ignorância, somente então pude perceber que todas as plantas ali eram desprovidas de raízes e que o solo não passava de uma fina cerragem úmida, compacta, de cor escura, dando a impressão de ser um pedaço de cortiça, o que as sustentava.

Sucumbido em tristeza e pranto sutis, sustentando em minhas mãos aquela tragédia, com pesar depositei-as na lixeira, volvi meus olhos para a tela do computador e retornei a minha condição de planta.

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