segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cartomancia extraterrestre

– O que é, o que é? Um pontinho roxo na Praça Osório?
– Hmmm, não sei.
– É a Sulamita.
– Sulamita? Quem é essa?
– Aquela mulher que vê o futuro. Que tá sempre com um radinho rosa na orelha.
– Tá errado!
– Por quê?
– Porque ela não tem mais o cabelo roxo. Agora é amarelo.
– Tem certeza?
– Tenho sim. Ontem mesmo passei por lá com minha mãe e lá estava ela de cabelo amarelo. Minha mãe até consultou com ela.
– É? E como foi?
– Ah, minha mãe não me contou, né. É coisa lá dela. Eu fiquei só olhando, prestando atenção na Sulamita, em suas mãos cheias de anéis, sua roupa florida. Ela me olhava de vez em quando com o canto do olho e dava um sorrisinho. Daí, ela pediu pra minha mãe fechar os olhos e pensar não sei no quê. Foi aí que eu vi uma coisa muito estranha.
– Estranha? O quê? Me conta!
– Ela pegou o radinho rosa, que estava na mesinha, com um braço que saiu das costelas dela, debaixo do braço esquerdo, e encostou-o com cuidado na orelha, inclinando um pouquinho a cabeça, como se estivesse repousando a cabeça num travesseiro bem macio. Fechou os olhos. Pude ouvir uns ruídos estranhos, vozes falando outras línguas que nunca ouvi antes. Não era inglês, nem espanhol.
– Uia!
– Fiquei arrepiada. As flores da roupa dela pareciam se mexer. Algumas flores pareciam sair da roupa dela. Cocei os olhos pra ver se não estava viajando.
– Ai! Você tá me deixando com medo.
– Ela estava com um sorrisão no rosto. Dava a sensação de que aquilo que ela estava ouvindo e sentindo era muito bom.
– Ai! Será que ela é uma alien?
– Não sei. Só sei que ela fez isso tudo na minha frente. E que foi muito rápido. Ela disse pra minha mãe abrir os olhos, fez um leque com cartas de baralho na mesinha, virou algumas, não sei quantas. Daí, falou alguma coisa pra minha mãe que a deixou com
os olhos arregalados, meio alegre, meio ansiosa.
– Acho que vou começar a descer no outro ponto de ônibus pra vir pra escola.
– Minha mãe pagou a mulher e fomos embora. Como é o nome dela mesmo?
– Sulamita.
– Você contou pra sua mãe o que você viu?
– Eu tentei e não consegui. Minha língua parecia que estava travada. Dei uma olhadinha pra trás e vi a mulher me olhando, como se estivesse esperando que eu olhasse pra ela. Agora acho que parecia que o cabelo dela estava mudando de cor, de amarelo pra verde. Ela deu uma piscadinha pra mim e deu uma risada bem alegre enquanto ouvia uma música sertaneja no radinho rosa, bem de pertinho.

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