segunda-feira, 6 de agosto de 2012

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Fazia dois séculos que eu prometia ir ao parque. Dois séculos mesmo, mas isso é outra estória. Fui de sandália, fazia muito calor aquele domingo, uns 28 ou 30 graus. O parque estava cheio, gente, cachorro, gato e sapato. Discos de plástico giravam no ar, pipas rebolavam com o vento caprichoso que, ora refrescava, ora irritava. Os sons eram inconfundíveis, típicos de qualquer parque num domingo de sol. Depois de dar três voltas no parque - sentindo-me orgulhoso por achar que isso, e só isso, já era exercício suficiente - fui atrás de uma boa sombra. Encontrei-a no alto de um morrete. Faziam-me companhia um menino e um São Bernardo.

Faltavam dois segundos para o meio-dia quando começou um tumulto na pista de skate. Levantei-me para ver do que se tratava e vi a Guarda Municipal prendendo um dos skatistas, que reagia à prisão. Seus colegas, - muitos, cerca de 30 entre rapazes e moças - protestavam contra a prisão do rapaz, xingavam os policiais que os ameaçavam com seus cacetetes. Uma viatura chegou para levar o rapaz preso. Esta foi alvejada por garrafas e latas de refrigerante e cerveja. Ouvi os policiais pedirem reforços. Era possível sentir que ambos os lados - os skatistas e os policiais - tinham fome de sangue. Campos de batalha como aquele...

Formou-se de súbito uma multidão de curiosos.  Alguns diziam "são apenas crianças" enquanto outros diziam para "levar esses vagabundos daqui". E entre a multidão teve início uma troca de farpas e faíscas e a Guarda Municipal teve que contê-los em meio a um enxurrada de coisas que voavam de todos os lados em cima de si. Resolvi, então, ligar para um amigo meu que é jornalista. jornalista de verdade, não jornalista de patrão. Tirei meu celular do bolso, um clique na tela e o enorme São Bernardo pula sobre minhas costas, me derrubando, eu descendo ladeira abaixo comendo terra, comendo grama, comendo merda, comendo dentes, comendo sangue.

Quando a queda acabou, vi-me imundo, sangrento e tonto no asfalto, no front dos skatistas. Todos pareciam ter parado pra ver a minha performance circense. Não me faltou nem o nariz de palhaço. Me levantei com a ajuda de alguns dos skatistas e isso, acreditem, foi o suficiente para que eu passasse a fazer parte daquele grupo e, consequentemente, me tornasse inimigo do outro grupo que agora brandia ordens repressivas e se preparava para uma batalha. Já em pé, limpando o sangue da boca com o pulso, percebi que, sim, é aqui onde pertenço. Não poderia ser diferente. Não seria eu. Mesmo assim, de peito inflado e protestando junto com os skatistas e com os que foram juntando-se ao grupo, só pude pensar em uma coisa quando o primeiro passo rumo ao confronto foi dado: f...

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